quarta-feira, 18 de março de 2009

“Abner chamou Joab e disse-lhe: «Até quando irá a espada ceifar vidas? Não sabes que isto só nos pode acarretar tristeza? Não será já tempo de dizeres ao povo que deixe de perseguir os seus irmãos?» ” 2 Sm 2, 26

Quantas vidas, ainda hoje, caiem pela espada? Quantos corações são beijados pela morte? Quantos sorrisos são desfeitos e derrubados ou porque professam outra religião, ou porque pertencem a outros ideais políticos? Até quando, Senhor, o homem se esquecerá que é criatura e que nada resolve com guerras?
Ao ler um artigo do jornalista Carlos Reis, intitulado Recrutadas à força e maltratadas, a tristeza e um pouco de revolta invadiram-me, porque, segundo um estudo, existem cerca de 250 mil crianças que são envolvidas em conflitos em todo o mundo, muitas delas reptadas das escolas para serem forçadas a servir de combatentes, escravos sexuais ou criados. Que brutalidade! Que falta de escrúpulos e humanidade!
Quem tem o direito de roubar a adolescência e a vida a qualquer criança? Quem tem o direito de roubar a pureza a uma criança para a transformar em brutalidade, em ódio e vingança? Ninguém. No entanto, isto acontece e nós “comemos e calamo-nos”.
Continuando a minha leitura, deparei-me com outro artigo, agora de Michael Amaladoss, que se intitulava Para onde vai o país?. Este abordava a situação de violência na Índia, uma Índia dividida entre o poder politico e económico, que pretende ansiosamente assumir-se na comunidade das nações e a massa popular dilacerada pela multiplicidade de origens étnicas, castas e grupos religiosos e pelo terrorismo.
Mais uma bomba caiu em cima de mim e fez surgir uma questão: “Onde está a justiça?”. Uma resposta à qual não consigo responder se apenas me guiar por critérios humanos, critérios que se dizem incorruptíveis, mas que a corrupção persuade.

terça-feira, 10 de março de 2009

Onde a voz é calada...

Ícaro era um jovem nascido numa aldeia no sopé de uma serra, que cresceu envolvido pela Natureza. Sua família era uma simples família de camponeses. Com toda a sua envolvência familiar, Ícaro ganha o gosto pelo estudo e é fascinado pela geografia.
Quando Ícaro chegou ao final do ensino secundário, deixou falar o seu coração e abraçou a vida religiosa e foi estudar para uma comunidade, afastada da sua terra. Este jovem era muito calado e fechava-se muito facilmente.
Após algum tempo de vida comunitária e com algumas tentativas de relacionamento com os colegas falhadas, este começa a isolar-se. Os seus superiores incentivam toda a comunidade para que se fortalecesse as relações e o diálogo, a abertura aos outros.
Ícaro lança-se novamente na sua abertura aos colegas e convida-os para sair. A sua intenção era fomentar o diálogo, abrir-se e dar-se um pouco a conhecer. No entanto, Ícaro por mais que tente falar, partilhar as suas experiências, os colegas que o acompanha calam-no, abafam a sua voz com o entusiasmo com que se expressam, esquecendo-se da sua presença.
Ícaro sente-se a mais, desiste de se expressar e caminha como mudo, é obrigado a isolar-se incentivado não só com palavras mas também com obras e actos.
Ícaro é acusado de isolamento, mas será ele o culpado do isolamento? Onde está a essência do isolamento? Até quando a sua voz é calada e o seu grito emudecido? Será que este jovem terá de se cansar em vão? E perder o seu tempo para nada mais que aumentar o seu sofrimento perante o desprezo?
Não te cales, Ícaro! Solta o teu grito mesmo que ninguém te queira escutar. Solta a dor e o sofrimento que habita o teu coração mesmo que sozinho estejas. A nossa vida, amigo, é como um rio que corre e salta ao descer a serra e vai alegre a caminho do mar, mas ao longo do seu curso encontra os açudes que o fazem parar e esperar. Contudo não desiste da sua alegria para atingir o mar.
Amigo, Coragem! Lança o grito de esperança e serás escutado…